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Postado em 24 de Maio de 2016 às 14h33

Perdendo alguém que amamos

Ieda Dreger | Psicóloga A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe.´ (A. B. Campbell) Primeiramente, quero abordar alguns mitos sobre o...

A dor é suportável quando conseguimos acreditar que ela terá um fim e não quando fingimos que ela não existe.´ (A. B. Campbell)
Primeiramente, quero abordar alguns mitos sobre o luto, que dificultam uma compreensão clara a respeito dessa experiência tão humana e universal. São os que seguem:
1. Luto e pesar são uma mesma experiência
2. A vivência da perda e do luto progride de acordo com fases previsíveis e seqüenciadas.
3. Devemos sair do luto, em lugar de encará-lo.
4. A partir da perda de uma pessoa amada, devemos ter como objetivo superar o luto, o mais cedo possível.
5. A dor expressa em lágrimas é um sinal de fraqueza
Há diferenças fundamentais entre as duas experiências e entender essa diferença é fundamental.
Pesar : é um complexo de pensamentos e sentimentos sobre a perda, que são vivenciados internamente. Em outras palavras, é o significado interno dado à experiência do luto.
Luto: é o pesar tornado público, quando você se apodera desses sentimentos e pensamentos e os expressa e compartilha com os que o cercam. Chorar, falar sobre a pessoa que morreu ou celebrar datas especiais são apenas alguns exemplos. Mesmo que esta expressão se dê sem a presença de outras pessoas, também pode ser entendida como uma forma saudável de luto.
Cada pessoa fica enlutada de sua maneira, não existindo, portanto, maneiras melhores ou piores, nem a imposição de uma seqüência rígida, que normatiza o processo. O luto é uma experiência pessoal e única, para cada pessoa.
As pessoas enlutadas são encorajadas pela sua comunidade a prematuramente deixar para trás a experiência do luto. Como resultado, temos duas situações: ou o enlutado vive seu processo isoladamente ou força-se a abandoná-lo, antes de tê-lo completado. Amigos e familiares, bem-intencionados mas desinformados, tentam fazer com que o enlutado desenvolva auto-controle, entendendo que essa é a resposta adequada, tornando muito difícil para o enlutado enfrentar essa mensagem poderosa, que encoraja a repressão emocional.
Com freqüência, as pessoas me perguntam quanto tempo dura o luto. Entendo que esta é uma pergunta diretamente relacionada à impaciência que nossa cultura tem com o pesar e o desejo de sair logo da experiência do luto. Um exemplo disso é a pressão que o enlutado sofre, logo após a perda, para voltar à atividade normal. Aqueles que permanecem expressando tristeza por um tempo prolongado são considerados fracos, loucos. A mensagem sutil é “seja forte, não se deixe abater”.
O enlutado pode ouvir alguém lhe perguntar: Você já superou sua dor? Ou, o que é pior: “Já está na hora de você sair dessa”.A dimensão final do pesar é com freqüência entendida como resolução, recuperação, restabelecimento ou reorganização. Por que não pensar em reconciliação? Esta palavra pode ter um significado mais apropriado acerca do processo vivido. Não significa passar pelo luto, significa crescer por meio dele. Reconciliação é mais expressiva daquilo que ocorre, à medida que o enlutado integra essa nova realidade de se mover ao longo da vida sem a presença física da pessoa que morreu.
A reconciliação permitirá que o enlutado tenha um senso de confiança e energia renovado, uma habilidade para reconhecer totalmente a realidade da morte, e a capacidade de se tornar envolvido novamente. O mais importante: o enlutado poderá reconhecer que, embora difícil, a dor e o pesar são partes necessárias do viver. À medida que for ocorrendo a reconciliação, o enlutado poderá se dar conta que a vida será diferente sem a presença da pessoa que morreu. Mas para isso será necessário perceber que a reconciliação é um processo, não um evento. Além da compreensão intelectual, existe a compreensão emocional e espiritual. A dor sentida vai deixar de ser onipresente e aguda, para se transformar em um sentimento de perda que pode ser reconhecido e dá vez a um significado e um propósito renovados. O sentimento de perda não desaparece completamente, ele é atenuado e as crises de pesar, antes intensas, tornam-se menos freqüentes e mais suaves. À medida que o enlutado começa a fazer novos envolvimentos, emerge a esperança de continuar a viver. É possível perceber que, embora a pessoa que morreu jamais virá a ser esquecida, a vida pode e deve continuar a ser vivida. Não se trata de “superar” o pesar. Quando o enlutado começa a mergulhar no trabalho do luto, ele irá se reconciliar com ele.
Muitas vezes, as lágrimas devidas a uma perda são associadas a fraqueza e inadequação pessoal. Isso é uma inverdade. Temos dificuldade de conviver com a dor, a nossa e dos outros . Então tentamos fazer o possível, rapidamente, para não vermos o outro sofrer.
O que há de muito especial nos seres humanos? Cada um é único, não há dois iguais e isso se reflete nos vínculos que estabelecemos, bem como nas condições da dor pela perda daqueles que amamos. Cada pessoa que está ao nosso lado tem um lugar em nosso coração e a nossa dor será proporcional ao lugar que ela ocupou.
A dor da perda de alguém amado é muito forte, mas terá será atenuada com o tempo. Se perceber que não consegue se recuperar busque ajuda de um profissional preparado para lhe ajudar.

Por Ieda Dreger. 

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