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Postado em 24 de Maio de 2016 às 11h26

Adoção e afetividade, um encontro que tem tudo para dar certo

A motivação mais freqüente para adotar um filho é a condição de esterilidade de um ou ambos os pais adotivos. Existem também outros fatores de motivação, como: a morte anterior de um filho; o desejo de ter filhos quando já se passou da idade de tê-los biologicamente; o desejo de ajudar crianças necessitadas e fazer o bem; o contato com alguma criança que desperta o desejo de paternidade ou maternidade; homens e mulheres que anseiam por ser pais, mas não têm um parceiro amoroso; casais homossexuais que desejam ter um filho; o medo de uma gravidez, etc.
 
Na experiência humana existe o sonho que muitas vezes transforma-se em realidade. As pessoas pensam, imaginam e têm idéias e a partir disso montam suas realidades.
Escrevo isso para falar dos filhos na vida de uma pessoa. O filho é sempre apenas um sonho, que pode ou  não se tornar realidade.
A busca por um filho não é apenas uma conquista genética, deve ser também uma conquista ética, porque é preciso ter respeito por toda uma história impar que esse ser trás consigo. 
Algumas pessoas geram filhos, estes são os genitores. Para serem pais precisamos, além de gerar, manter relações afetivas. Assim, o grande desafio é fazer daquilo que seria meramente biológico, em uma conduta afetiva. Sem dúvida, procriar é uma condição dada pela natureza; criar é uma responsabilidade no âmbito da ética entre os homens. Procriar é um momento; criar é um processo. Procriar é fisiológico; criar é afetivo.
Filho adotivo não pode vir de fora, e sim de dentro (dentro do coração) como vem o filho biológico. Arrisco dizer que o filho que se adota é o filho que deve ter ser “gestado” no coração e mente de seus pais, assim, o filho biológico de uma pessoa torna-se filho de outra pessoa através das ligações de afeto.
O amor vem antes do conhecimento, neste caso o amor ao filho. Não precisamos conhecê-lo para amá-lo. O amor passa a ser uma vontade interna que acontece mesmo sem termos uma montanha de dados sobre a criança (pelo menos deveria ser assim, porque filho não é mercadoria de marca, cor, “tempo de uso”, etc. que se compra em supermercado).
A partir do momento que acontece uma adoção, é muito importante não esquecer que cada pessoa tem uma história, ou seja, vem de um contexto histórico. A criança adotada também precisa estabelecer ligações com sua história pessoal. Isso acontece a partir do conhecimento de suas origens, porque não existe pessoa real sem história. Claro que dizer a verdade para a criança causa desconforto, medo, angústia. Alguns pais têm medo que, se a história for revelada, isso possa destruir o afeto entre pais e filhos. As dificuldades nas relações entre pais e filhos adotivos poderão surgir muito mais pela manutenção dos segredos do que pela revelação da verdade. A verdade não machuca quando vem acompanhada de afeto.
Por volta dos 3 ou 4 anos, a criança começa a se interessar por questões de sexualidade e de origem. É quando ela começa a perguntar como nascem os nenês. Nesta fase ela já está preparada para começar a tomar consciência de sua história de adoção. A revelação não precisa ocorrer de forma abrupta. Os pais podem ir familiarizando-a com o tema através de histórias ou filmes nos quais há um personagem adotado. Quando sentem que a criança está pronta, podem lhe dizer que sua história é parecida com a do personagem. Já vi muitos casos em que os pais não precisaram fazer esta comparação. A própria criança perguntou: "esta não é a minha história?". É importante que se vá contando os detalhes da adoção conforme a criança vá perguntando, respeitando o seu ritmo próprio. Às vezes a criança passa um longo tempo sem fazer perguntas, como que digerindo as informações. É importante que os pais estejam atentos, e não forcem o assunto, mas também não o deixem morrer, pois às vezes tanto eles com a criança gostariam de esquecer que entre eles há uma história de adoção
Quando se fala em adoção, lembra-se de rejeição. Sim, porque a criança adotada vive uma rejeição pela mãe de origem, mesmo que a impossibilidade de criá-la tenha sido decorrente da morte. Existe também o medo da rejeição da nova família, assim como os pais adotivos tem medo de não serem aceitos pelo filho adotado.
Alguns filhos adotivos tem também a dificuldade de aceitar que foram “aceitos”, porque isso gera uma responsabilidade que muitas vezes é difícil de assumir.
Se nos referenciarmos aos pais que adotam, sabemos que adultos com problemas orgânicos para gerar filhos, não estão atendendo ao que a sociedade espera deles, ou seja, crescer e multiplicar  Por esse motivo, os inférteis carregam o estigma social de não atenderem a  esses requisitos, convivendo com o peso do fracasso.
Sentimentos como o de inferioridade quase sempre são encontrados na subjetividade dos pais adotivos, sendo estes sentimentos transportados para a relação com seus filhos.
Esses sentimentos de inferioridade desencadeiam um outro: o de baixa auto-estima, que gera um conflito camuflado aceito pelos pais e sentido pelos filhos. Como não há por parte dos pais a verbalização desses sentimentos conflitantes que perpassam por essa relação parental, mas sim a tentativa de escondê-los, esses tendem a ser canalizados e transformados em comportamentos prejudiciais, ou, no mínimo, causadores de ansiedade para as crianças que estão diretamente inseridas nesse processo. Quando a linguagem não fala, é o comportamento que exerce essa função.
Quando a adoção não ocorre por amor ou desejo de ter um filho, mas sim por uma necessidade de mascarar a realidade da infertilidade, há uma grande probabilidade de problemas futuros na família. A adoção aparece como necessidade de satisfazer uma convenção social. Nesses casos, os pais arrumam uma alternativa equivocada para superar uma frustração que acreditam ser uma deficiência pessoal.
É bastante freqüente associar adoção com distúrbios de comportamento. As pessoas falam: "Ah, ele é assim porque é adotivo..." Na verdade, filhos adotivos dão problemas como os biológicos dariam, percebo que em grande parte, quando os filhos adotivos “dão problemas”, temos pais não preparados para sua função e papel, assim como isso também ocorre com filhos biológicos.
Ao longo de sua existência, toda família apresenta conflitos. As famílias que optam pela adoção não são diferentes. Aliás, em nada diferem das famílias naturais, pois os vínculos de afeto vêm se mostrando tão funcionais como os vínculos biológicos.
A saúde emocional de uma família adotiva e de outras de diferentes formações depende do modo como são passados os seus valores, e como se aprende a experimentar os vínculos de confiança que são estabelecidos através de verdades sobre os segredos da história que perpassa por todos os seus membros.
Assim, tanto família com filhos adotivos como as de filhos biológicos, precisam ter afeto, respeito, amor, cordialidade, valores éticos e morais, etc. porque é isso que vai permear as relações e fazer com que elas dêem certo ou não. Vale a pena tentar, vale a pena amar.
 
Dicas de livros
 
Laços de Ternura
Autora: Lídia Weber
Editora: Juruá / PR
 
Os caminhos do coração
Autora: Maria Tereza Maldonado
Editora: Saraiva
 
Por causa de um colchão
Autora: Mafalda Pereira Boing
Editora: Do autor / SC
 
Compreendendo o Filho Adotivo
Autor: Luiz Schettini Filho
Editora: Bagaço / Recife
 
Compreendendo os pais Adotivos
Autor: Luiz Schettini Filho
Editora: Bagaço / Recife
 
Adoção: origem, segredo e revelação
Autor: Luiz Schettini Filho                                                                                         
Editora: Bagaço / Recife
 
Dicas de filmes
 
Ensinando a Viver
Sinopse: Um homem que enviuvou recentemente decide adotar uma criança que acredita ser um marciano em missão de exploração na Terra. Com Jon Cusack, Amana Peet, Joan Cusack, Oliver Platt e Sophie Okonedo.
 
Um verão para toda vida
Sinopse - Quatro órfãos que são muito amigos são enviados para férias numa casa de praia. Lá eles conhecem um casal que não pode ter filhos, que se interessa por adotar um deles. Com Daniel Radcliffe.
 
Uma família inesperada
Sinopse - Novaiorquina independente e trabalhadora é forçada a cuidar de seus dois sobrinhos pequenos, quando sua irmã os abandona em sua casa e parte para uma viagem. Diante dessa nova realidade, ela descobre que terá que aprender coisas que nunca sonhou, inclusive a gostar de crianças.
 

Por Ieda Dreger. 

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